SOBRE O RITUAL DE VIRADA DE ANO
Se
todo ano é sempre a mesma coisa, despertador tocando com a gente ainda no
melhor do sono, driblando o trânsito para não chegar atrasado no trabalho, a
correria da hora do almoço, o rush na volta para casa e a família que, tirando
o endereço diferente é tudo igual; por que sempre ficamos felizes com o
réveillon? Por que ainda cultivamos esse ritual de virada? Certamente não é
porque gostamos de ficar um ano mais velhos, a não ser que sejamos crianças ou adolescentes
de dezessete anos. Então por que essa euforia de expectativas com o ano novo?
Porque é isso que ele será: um novo ano.
Em
uma analogia com o teatro, posso dizer que, às vezes, continuaremos atuando na
mesma peça, só que com um elenco renovado, ser protagonistas de uma história
diferente com a mesma trupe ou ainda poderemos ousar uma nova peça com novos
atores. De qualquer forma, o roteiro não será o mesmo, por mais que a rotina de
sempre se imponha. O teatro poderá ser histórico ou moderno. O texto um belo
clássico ou um irreverente contemporâneo. Talvez seja a hora certa para dar fim
aos ensaios e encarar a estreia com teatro cheio ou vazio, já que quem vai
determinar o sucesso de nossa empreitada seremos nós, ao mesmo tempo atores e
diretores de nossas comédias e tragédias. Com cenas bem marcadas e falas
incorporadas ou no improviso para que a plateia não perceba que tivemos um
branco, o importante é não ficarmos parados nem no tempo e nem no espaço,
afinal o tablado do proscênio é piso sagrado e não se pode, jamais, perder o
ritmo cênico. Os holofotes estarão sobre nós e a trilha sonora continuará
embalando os medos e os sonhos de nossos personagens. Por mais que a perna
esteja bamba, a voz precisará ser empostada com firmeza, pois o show não pode
parar.
Quanto
a mim, não vou ligar de receber flores no camarim e prêmios conceituados, porém
sei que o mais importante serão as memórias; do frio na barriga às risadas na
coxia, da criação de figurinos e cenários aos laços fortalecidos pelas horas e
horas juntos. Memórias de superação e dos cheiros que só o teatro tem.
Memórias, porque diferente de televisão e cinema, no teatro o que fica é a
memória de quem, lá, se fez presente.
Quando
a cortina se fechar, que seja apenas para indicar o final daquela peça e que
tenhamos a oportunidade para reunir nosso elenco novamente para iniciarmos, no
ano seguinte, um novo espetáculo.
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